Os que amamos o Sertão, somos todos descendentes de Euclides da Cunha

 

 Este blog nasce com a intenção de tornar pública nossa pesquisa de doutoramento e, ao mesmo tempo, com o desejo de aproximar aqueles que amam o país do universo literário de Euclides da Cunha, cujo marco é seu livro seminal Os Sertões (1902), patrimônio da nacionalidade brasileira.   

                                                                                                           * Aurora Miranda Leão

       Toda vez que ouvia alguém falar de Os sertões, eram opiniões meio desencontradas: umas davam conta da grandiosidade do livro, outras tantas diziam ser “um livro muito chato”, umas terceiras apontavam uma certa incapacidade de leitura. Tirando meu saudoso tio Reynaldo Miranda Leão, professor da UFAM, para quem o livro euclidiano era o melhor da produção literária brasileira, proliferavam comentários evasivos, superficiais, altissonantes mas com fraca argumentação (aquela turma que ouviu dizer pela crítica especializada tratar-se de uma grande obra mas que não sabe nem se interessa porquê), desproporcionais,  inconsistentes.

         De algum modo, Os sertões me despertava curiosidade. Mas admito que seu extenso número de páginas também me fez optar primeiro por outras leituras, e dele guardava sempre a ideia de um livro que precisava ler por ser indeclinável para a compreensão do Brasil.

       Ao passar das décadas, Os sertões foi parar no teatro: ganhou versão do sempre polêmico José Celso Martinez Correa e seu intrépído grupo Oficina. A narrativa da guerra de Canudos virou espetáculo cênico, realizado entre 2002 e 2006, o qual era apresentado em dias alternados, cada um contando uma parte da saga euclidiana pelos sertões nordestinos. Depois disso, Zé Celso levou à montagem a Salvador, Recife e Rio, acampando no Ceará em 2007, onde apresentou o espetáculo na terra natal do lendário líder religioso Antônio Conselheiro, a cearense Quixeramobim. De lá, o grupo seguiu para Canudos, epicentro da guerra ocorrida no sertão baiano entre 1896 e 1897, e acompanhada com preciosismo pela pena sensível, vigorosa e erudita do escritor fluminense Euclides da Cunha. 

         E aconteceu o de sempre: onde quer que se conheça Os sertões, o impacto é coletivo. No Ceará, como na montagem paulista do Oficina, a tríade euclidiana também despertou fascínio, causou impacto, e suscitou reflexões e debates.

          Quando soubemos que a Feira Literária de Paraty, em 2019, teria o livro como grande temática, regozijei-me. Enfim, era uma chance de ver o livro vindo à tona de novo, numa feira sempre muito concorrida, para a qual acorrem pessoas de todas as idades e gostos literários, logo, bem distante do aspecto cerimonioso com que tantos imaginários nos contam sobre os acadêmicos.

      Antes da pandemia do coronavírus, cuja presença constata-se no Brasil em fevereiro de 2020, era a diretora Bia Lessa quem se empenhava em criar uma montagem de Os sertões para encenar em palcos cariocas. Até o momento, a encenação ainda não logrou ficar pronta, porém, com o olhar instigante e a qualidade de encenadora de Bia, a ideia deve ganhar corpo e somará mais um marco do teatro brasileiro.

        Outrossim, foi em 2018 que a matriz euclidiana chegou ao universo massivo da cultura televisiva e ganhou o aparato audiovisual da teledramaturgia. Com todo o zelo, qualidade e Know-how da TV Globo, uma leitura inusitada de Os sertões chegou à grade de programação da TV aberta através da série Onde nascem os fortes. E foi aí que Os sertões me pegou de vez.

            E começa assim nossa aventura acadêmica pelo universo euclidiano, a partir da benfazeja "provocação" da supersérie televisiva, escrita pela dupla George Moura e Sérgio Goldenberg, com direção de fotografia de Walter Carvalho, direção geral de Luisa Lima, e direção artística de José Luiz Villamarim.

        Neste blog, você poderá acompanhar de perto os passos desta deliciosa jornada acadêmica que é imergir no universo do sertão a partir do encantamento com uma narrativa, que é inspirada noutra, a qual, por sua vez, inspirou diversas outras. 

       O EUCLIDIANAS saúda você que nos visita e espera contar com vossa preciosa leitura.

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         Desde já, muito obrigada a você, leitor amigo e colega pesquisador, que chegou até aqui !

         Seguimos com encantamento, dedicação, força e fé porque sabemos que "O que a vida quer da gente é coragem", como dizia Guimarães Rosa.          

 


 

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