A atualidade permanente e inconteste do escritor Euclides da Cunha

 


A Semana Euclidiana, que reverencia a memória do jornalista, engenheiro, escritor e poeta Euclides da Cunha (1866-1909) alcançou este ano 83 edições. Assim como em 2020, a Semana aconteceu de modo online, direto da Casa Euclidiana, localizada no município de São José do Rio Pardo, lugar de onde o autor escreveu sua obra-prima, Os sertões (1902).

Este ano, a programação foi intensa e aconteceu nos três turnos, tendo como tema Euclides da Cunha: Uma Odisseia Literária Fluvial. Nomes como o a da dramaturga Maria Adelaide Amaral, do escritor e historiador Célio Turino e do professor Leopoldo Bernucci (que leciona na Universidade Davis, da Califórnia), abrilhantaram o evento. Tudo está registrado no canal da Casa Euclidiana no Youtube, acessível a quem quiser conferir. Para saber mais, acesse: https://casaeuclidiana.org.br/portal/

 

                                                      Cidade de São José do Rio Pardo reverencia memória de Euclides da Cunha

Nestes anos todos de jornalismo cultural, poucas vezes vi efeméride tão bonita, realizada com tanta disposição, afeto e dedicação, extravasando emoção, respeito e espraiando amor de toda uma cidade para com a memória de um escritor. Destarte, afirmamos com regozijo: a Semana Euclidiana é sim realização de extrema relevância para a Cultura Brasileira, afirmativa do valor imensurável de EUCLIDES DA CUNHA para o Patrimônio Histórico, Artístico e Imaterial do Brasil, salvaguardando a memória de quem dedicou seu olhar, seu tempo, sua sensibilidade e inteligência para uma zona de invisibilidade política. Foi assim que Euclides enxergou as grandes zonas interioranas do país: relegadas a segundo plano, abandonadas pelo poder estatal, renegadas ao sofrimento, ao descaso, à desigualdade social. Isso foi no final do século XIX, ao tempo da Guerra de Canudos (1896-1897), quando ele fez o registro do hediondo massacre que marca a implantação da República no país. Nenhuma outra obra do país equipara-se ao grandiloquente testemunho de Euclides da Cunha.

O livro Os sertões (1902), lançado cinco anos após o término da guerra ocorrida no interior da Bahia (o que deixou Euclides deveras chateado), é até hoje – e continuará sendo enquanto o país mantiver a desigualdade social como marca principal -, leitura recorrente para todos quanto quiserem entender sobre a formação do Brasil. É de tal monta a propriedade e qualidade do livro (com edições em várias línguas), que o Euclidianismo (movimento que junta os admiradores e estudiosos da obra do escritor) segue reverberando o notável legado do escritor fluminense em discussões, debates, reflexões e eventos acadêmicos, os quais confirmam e reafirmam a permanente importância do pensamento euclidiano.

Destacada como evento ímpar de Homenagem à figura de Euclides, a relevância da Semana Euclidiana confirma o acerto do poder público de São José do Rio Pardo – Prefeitura, Departamento de Arte e Cultura, e Câmara Municipal – em investir e apostar cada vez mais em sua realização. É emocionante ver uma cidade inteira “parar”, por uma semana, para reverenciar o legado de um homem das letras, falecido em 1909 (época na qual a mídia ainda não tinha a centralidade de hoje), cuja vida foi dedicada a construir pontes, superar desafios, interligar desiguais e fomentar a responsibilidade e amor ao país e à diversidade cultural de suas gentes. Além do livro que faz uma radiografia sociológica, geográfica, cultural, política e jornalística sobre o país, Euclides também escreveu sobre a Amazônia porque entendia que naquele território também estava uma região de imensas desigualdades e fulcral para entender a formação da identidade nacional. Infelizmente, o escritor faleceu, vítima de um crime, antes de a obra ser publicada.

               Euclides da Cunha: legado permanentemente atualizado num país de contrastes e desigualdades sociais gritantes.

Não á toa, o título do livro euclidiano é no plural: o escritor viu, como nenhum outro, a complexidade e diversidade desta sub-região do país. OS SERTÕES… Porque estes, tanto o Sertão como Euclides, são múltiplos, não é um só, são tantos, tantos como o meu Brasil de Todos os Santos, inclusive meu São Sebastião… Saravá !, como diria o poeta Vinícius de Moraes.

*Aurora Miranda Leão é jornalista, doutoranda em Comunicação pela UFJF e editora do blog Aurora de Cinema. Saiba mais: www.auroradecinema.wordpress.com

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